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A INICIATIVA DE DEUS E A RESPOSTA DO HOMEM
Continuando a nossa conversa com vocês, mediante este pequeno Curso Vocacional por correspondência, vamos refletir um pouco sobre dois aspectos fundamentais e importantes da vocação. Em toda e qualquer vocação Bíblica há sempre uma proposta de alguém (DEUS) e uma resposta do homem. Daí já se conclui que toda vocação exige um chamado e uma resposta. E é na concretização destes dois elementos (chamado e resposta) que a vocação se torna uma realidade pessoal em nossa vida. Explicitando mais: A realização pessoal de uma vocação se concretiza no CHAMADO e na RESPOSTA. Não adianta nada o chamado ser claro, bonito, motivante; se não houver a nossa resposta, nada feito. Como também não pode existir nenhuma resposta sem o chamado. Pois um elemento depende do outro para a realização vocacional. A história de cada Vocação Religiosa, Sacerdotal, bem como de qualquer outra Vocação Cristã é a história de um inefável Diálogo entre Deus e o Homem, entre o amor de Deus que chama e a Liberdade do Homem, que no amor responde a Deus. Por isso, na vocação cristã, religiosa e sacerdotal, o Chamado é, e sempre será, iniciativa de Deus. É Deus que chama por amor ao homem, ao seu seguimento. É Deus que por amor quis precisar do homem para a construção do seu reino. É Ele que nos chama sempre por amor. Foi esta, por exemplo, a experiência vivida pelo profeta Jeremias (Jr 1,4-5). É a mesma verdade apresentada pelo apóstolo Paulo que fundamenta toda a vocação na iniciativa amorosa de Deus (Ef 1,5). O absoluto primado da Graça (chamado e resposta) na vocação encontra-se na palavra de Jesus no Evangelho de São João (Jo 15,16). Por isso a vocação é um Dom da Graça Divina, e jamais um direito do homem; da mesma forma que não se pode considerar a vida sacerdotal como uma proposta meramente humana, nem a missão como um simples projeto pessoal. Fica assim excluída a vaidade ou a presunção dos chamados (Hebreus 5,4-5). Este Deus que por amor nos chama e nos interpela mantém sempre a sua fidelidade para conosco. Ele mantém firme a sua palavra e o seu compromisso. A parte de Deus sempre se realiza. Ele continua chamando homens e mulheres para segui-lo: como ontem, hoje e sempre, Deus vai precisar de nós, em nossa pobreza para continuar a sua obra salvadora no meio da humanidade. Mas, como já vimos antes, a vocação exige a sua concretização na nossa resposta.
É só conferir a Sagrada Escritura, que é Dicionário Vocacional, para percebermos claramente isso. Deus não quis e não quer salvar o mundo sozinho. Vamos conferir alguns textos: Ler o Êxodo 3,13-24; 4,1-18. Notamos aí o belíssimo diálogo de Deus (que chama Moisés para libertar o povo da escravidão do Egito, e Moisés, que depois de muito discernimento e relutância responde). O povo foi liberto. No Novo estamento: "Chamou aqueles que quis e estes foram ter com Ele" (Mt 3,1). Este ir que se identifica com o seguir Jesus exprime a resposta livre dos doze apóstolos ao chamado moroso do mestre. Foi assim o caso de Pedro e de André. "E disse-lhes: Segue-me e farei de vocês pescadores de homens". E eles, imediatamente, eixando as redes, seguiram-no (Mt 4,19-20). Idêntica foi a experiência de Tiago e João (Mt 4,21-22).
É sempre assim; na vocação resplandece o amor gratuito de Deus e a exaltação mais alta possível da liberdade do Homem. O chamado de Deus e a resposta livre do homem. É o Deus que nos chama porque ama, e respondemos porque amamos. Na realidade, Graça e Liberdade não se opõem entre si. Pelo contrário, a Graça anima a liberdade humana, livrando-a da cravidão do pecado (Jo 8,34-36), sanando e elevando-a em sua capacidade de abertura e de acolhimento do Dom de Deus. E se não se pode atentar contra a iniciativa gratuita de Deus que chama, também não se pode entar a extrema seriedade com que o homem é esafiado na sua liberdade.
Assim, ao vem e segue-me de Jesus, o jovem rico opõe uma recusa, sinal, mesmo que negativo, da sua liberdade. "Mas ele, entristecido por aquelas palavras, retirou-se abatido, porque possuía muitos bens" (Mc 10,22). A liberdade, portanto, é essencial à vocação, uma liberdade que, na resposta positiva, se qualifica como adesão pessoal profunda, como doação de amor, ou melhor, de reentrega ao doador que é Deus que chama como oblação.
Não pode haver vocações que não sejam livres. É a voz humilde e penetrante de Cristo que diz hoje como ontem e mais do que ontem: VEM. A liberdade é colocada na sua base suprema: exatamente a da oblação, da generosidade e do sacrifício.
O jovem rico do Evangelho que não segue o chamado de Jesus recorda-nos os obstáculos que podem bloquear ou apagar a resposta livre do homem; não apenas os bens materiais podem fechar o coração humano aos valores do espírito e radicais exigências do Reino de Deus, mas também algumas condições sociais e culturais do nosso tempo podem constituir não apenas ameaças e impor visões distorcidas e falsas acerca da verdadeira natureza da vocação, tornando difícil, senão mesmo impossível, o seu acolhimento e a sua própria compreensão.
Daqui a urgência de que a pastoral vocacional inserida na Igreja incida de modo decidido e prioritário na reconstrução da mentalidade cristã, tal como é gerada e sustentada pela Fé. É absolutamente necessária uma evangelização que não se canse de apresentar o verdadeiro rosto de Deus, o Pai que em Jesus Cristo chama a cada um de nós, e o sentido genuíno da própria liberdade humana, qual princípio e força dom responsável de si mesmo. Só dessa maneira serão colocadas as bases indispensáveis para que cada vocação, incluindo a sacerdotal, possa ser na verdade amada na sua beleza e vivida com dedicação total e alegria profunda.
Diante de tudo isso, gostaria de descrever o perfil da vocação Bíblica para ajudar ainda mais a nossa reflexão:
1) Toda vocação bíblica tem por objeto uma missão determinada.
2) Se Deus chama alguém é para enviá-lo, os chamados de Deus são os enviados de Deus.
3) Deus chama a pessoa que Ele escolhe e destina para uma obra particular no seu plano de salvação e no destino de seu povo.
4) Na origem de toda a vocação se encontra uma eleição divina, no término de toda vocação se encontra uma vontade divina de cumprir.
5) Toda vocação é um chamado pessoal dirigido à profundidade da consciência do homem, capaz de transtornar por completo sua existência, não apenas nas atividades externas mas inclusive em seu coração, até fazer dela um homem diferente.
6) Deus chama pelo nome: tomada de posição, às vezes por um nome novo; mudança de vida.
7) Deus espera sempre uma resposta livre e uma adesão consciente de Fé e de obediência.
8) A resposta do homem a Deus é por vezes instantânea, mas às vezes é tardia e duvidosa; ela arranca o homem do seu ambiente familiar e civil, fazendo dele um estranho entre os demais.
9) Deus muitas vezes dirige seu chamado ao homem através de acontecimentos e instrumentos humanos encarregados e inspirados por Ele.
10) No Antigo Testamento a vocação está sempre em função da comunidade; Deus chama para uma missão específica dentro de seu povo.
11) No Novo Testamento a mensagem evangélica é um convite a seguir Jesus
Cristo, é um chamado pessoal dirigido a cada um, e se refere a cada um.
12) A vocação é um meio pelo qual Jesus Cristo reúne ao seu redor os doze apóstolos.
13) A pregação de Jesus Cristo leva consigo sempre uma vocação, um convite a
seguir o seu caminho numa vida nova, cujo segredo Ele conhece.
14) O chamado é pessoal, deixando margem de seguir Jesus Cristo ou ficando surdos à sua voz.
15) A vocação, seja qual for a maneira de manifestar-se, nasce do Espírito Santo, numa diversidade de dons, de ministérios, de carismas, num só corpo que é a Igreja, comunidade dos chamados, enquanto ela mesma é chamada e eleita.
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO:
1. Procure aprofundar, dentro do tema proposto, as citações bíblicas encontradas.
2. Dentro do perfil da vocação bíblica, analisar as vocações de:
Abraão (Gn 12,1-10)
Moisés (Ex 3,1-12)
Isaías (Is 6,1-13)
Jeremias (Jr 1,1-10)
Chamados de Jesus Cristo:
Mc 3,13
Mt 10,1
Mc 1,16-21
Mc 2,17
Lc 5,29-32
Mt 22,3-4
Lc 14,16-17
Jo 1,35-39
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