Graça é um benefício de Deus em nosso favor. Tudo o que o senhor realiza em nossa vida é graça, é um presente sem preço. Com Deus não há trocas, não há comércio, não há méritos. Deus nos ama por pura gratuidade. Ama porque é puro amor.
Na primeira leitura, Naamã, considerava que era possível comprar a graça de Deus. Ele tinha dinheiro, tinha poder, no entanto, era leproso. Quando descobriu que a cura se encontrava em Israel, levou dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes de festa para o rei de Israel. Foi curado por Deus por intermédio do profeta, contudo de nada serviu o seu dinheiro. Eliseu fez questão de mostrar que é por graça de Deus que ele recebeu a cura, não aceitando nada em troca e lhe trazendo a cura mesmo sendo Naamã um estrangeiro. A prepotência não pode nos obter a cura. Às vezes achamos que podemos negociar com Deus, que as coisas devem acontecer da maneira que planejamos. Esquecemos de reconhecer que Deus é puro dom.
Não basta ficar feliz pelo bem recebido, é preciso se voltar para o doador da graça. O doador da graça é mais importante do que a graça recebida. Reconhecer que há um Deus que se importa conosco, que nos presenteia, que nos dá vida nova e que cura a nossa lepra é mais importante que a própria cura. No Evangelho, os nove leprosos do Evangelho não perceberam esta dinâmica divina. Foram embora após cura, apenas um voltou agradecido. Os dez foram curados da lepra, porém apenas um foi salvo, pois apenas aquele samaritano se abriu à presença benevolente do Senhor.
Os leprosos eram judeus e, por isso, consideravam que tiveram a cura por direito. Preocupavam-se mais com as obrigações legais do que com o Senhor das graças. Jesus os manda ir aos sacerdotes, pois eles acreditavam em tais fiscalizações de pureza. Enquanto os nove se preocuparam apenas com a prescrição legal sobre a lepra, foi um samaritano, considerado indigno, que voltou para agradecer. Isso nos ensina que ninguém é dono da graça divina. Jesus veio para todos. Hoje não podemos fazer grupos de salvos e indignos, grupos de santos e pecadores, grupos dos que pertencem ou não pertencem. Nossos critérios humanos miram as aparências, enquanto Deus vê o coração de cada ser humano. É sempre recomendável um exame sincero de coração, pois entre nós, muitos católicos de comunhão dominical podem estar leprosos, enquanto muitos ditos pecadores, que não freqüentam nossas celebrações, podem estar hoje com o coração agradecido pelas bênçãos que o Senhor derrama em suas vidas por sua misericórdia.
Gratidão é mais do que um sentimento ou uma prece. Gratidão é um estilo de vida. Devemos viver na gratidão, viver na graça. Devemos viver sabendo que tudo o que recebemos vem de Deus, que Ele é graça em nossa história. Olhar para a história, para o presente e para o passado, percebendo as maravilhas que Deus realiza em nós. Agradecer pelas coisas boas: pela família, pela saúde, pelo pão, pelos amigos... Quem vive a vida na gratidão, sabe também agradecer pelas coisas ruins. Todos sofremos, mas podemos sofrer de modo diferente: podemos encontrar no sofrimento alguma lição, podemos crescer na humildade e na compreensão de que a vida nos escapa, de que não somos donos dela, pois só Deus é o dono da vida. Somos inclinados a lamentar e a cair na revolta. São Paulo (2ª. Leitura) soube viver isso na prisão: não se queixou, mas abraçou a cruz de Cristo, afirmando que “se com Ele morreremos, com Ele viveremos”. A graça de Deus supera a nossa própria infidelidade.
“Gratidão, em seu sentido mais profundo, significa viver a vida como um presente para ser recebido com agradecimentos. E a gratidão verdadeira abarca tudo na vida: o bom e o ruim, a alegria e a dor, o santo e o não tão santo” (H. Nouwen).
Fonte: Pe.Roberto Nentwig